Espiritualidade,  Psicologia

Quando um grupo católico se comporta como uma seita

Tempo de leitura: 4 minutos

Recentemente publiquei meu primeiro livro. Ele trata de uma questão significativa: quando um grupo católico deixa de ser uma comunidade saudável e passa a funcionar com uma dinâmica sistêmica doente, abusiva e corrompida.

Corruptio optimi pessima é um ditado em latim que significa que um grande bem se converte em um grande mal se se corrompe a si mesmo. A corrupção das melhores coisas as transforma nas piores. Podemos aplicar essa premissa ao caso de grupos católicos que começam bem e acabam se corrompendo por diversos fatores, transformando-se em grupos com funcionamento sectário. O processo de adoecimento de um grupo que começa bem, com vigor e frutos é bem sutil. Ele vai se deteriorando e corrompendo conforme vai se fechando mais em si mesmo.

Mesmo dentro da Igreja Católica nos deparamos com grupos com funcionamento sectário. O termo ‘desvios sectários’ foi proposto pelo prior da Grande Cartuxa, Dom Dysmas de Lassus, em seu livro ‘Los riesgos de la vida religiosa’. Este livro consagrou-se como um clássico devido à profundidade e à novidade que o autor discorre em sua obra, especialmente através do trabalho amplo de estudo e o acompanhamento das vítimas que o fundamenta.  Estes grupos, no contexto católico, também podem ser chamados de seitas intra-eclesiais ou comunidades com funcionamento sectário. Não há um consenso sobre a terminologia. Estes grupos são católicos e muitos deles possuem aprovação oficial da Igreja. Dessa forma não são em si mesmos associações rebeldes. São chamadas derivações ou desvios porque, ao contrário das seitas que estão totalmente apartadas da Igreja Católica em si, esses grupos estão ligados à Igreja porque seus organizadores e participantes são fiéis católicos, porque possuem como fundamento a doutrina católica – ainda que má interpretada e muitos deles também possuem vínculos de aprovação diocesana.

Em comparação com outros países, o Brasil parece ter pouco conhecimento sobre “os desvios sectários em meio a nós”. Sejam institutos de vida consagrada, novas comunidades, pastorais, grupos de oração, associações de fiéis leigos, de cunho mais carismático ou tradicionalista, independente do nome ou do contexto, qualquer grupo dentro da Igreja Católica pode se tornar um desvio sectário. Tendo eu estudado vastamente este assunto tanto do ponto de vista psicológico quanto eclesial e de minha própria experiência clínica acompanhando estes casos, quero alargar estas reflexões aos diversos âmbitos eclesiais.

A presença de tendências sectárias ou demais problemas na vida religiosa ou em demais estruturas eclesiais não nos deve fazer questionar a vida religiosa ou a Igreja em si, mas sim de reconhecer seu valor, contribuindo para recuperar a sua vitalidade e beleza onde se perdeu. Promovendo um adequado questionamento, conseguimos reconhecer os perigos, os riscos, os problemas e prover as soluções adequadas. Tomar consciência  dos elementos de corrupção e adotar todos os meios para reforçar o sistema de forma a proteger as pessoas e as comunidades é indispensável no cenário atual. A questão dos grupos com funcionamento sectário é um problema significativo e urgente porque, além de terem sua estrutura institucional funcionando de forma doente, também apresentam um campo enorme de vulnerabilidade para situações abusivas e adoecimento mental, físico e espiritual dos indivíduos. 

Esclareço que o intuito deste livro não é aprofundar exaustivamente a temática, mas de servir como guia de leitura rápida e simples para iniciar um processo de conscientização do povo católico brasileiro a respeito do assunto. Com sorte, se provocará uma viva e frutuosa discussão.

O que o livro aborda?

A obra inicia com o prefácio do padre Daniel Lima, seguindo por uma introdução onde é feita uma contextualização geral da temática. Depois, aborda a questão da definição dos desvios sectários trazendo algumas teorias e questões terminológicas. As características desses grupos são discorridas com detalhes no capítulo seguinte, tendo como base os pensamentos de autores consagrados na temática bem como observações da autora. Essas características são: a idolatria ao fundador, a estrutura piramidal, a armadilha unidade-uniforme, o sistema lógico fechado, as manipulações psicológicas e a cultura comunitária do abuso. O próximo capítulo dedica-se às consequências psicológicas e espirituais das vítimas. Por fim a obra conta com relatos de vítimas que foram cedidos à autora e uma conclusão para encerramento.

Sinopse: Nas páginas de “A corrupção do bem”, a autora conduz o leitor por uma análise profunda e reveladora sobre os desafios enfrentados por grupos católicos que acabam se envolvendo em dinâmicas sectárias. O livro explora como a corrupção das melhores intenções pode transformar esses grupos em verdadeiros desvios sectários, afetando não apenas seus membros, mas a integridade da própria instituição. Ao longo da obra, são apresentados relatos e estudos que evidenciam a complexidade desse fenômeno. O livro não se limita a apontar problemas; ele também busca oferecer uma voz às vítimas desses desvios sectários, buscando conscientizá-las e validar suas experiências. A obra é uma resposta ao apelo do Papa Francisco, conclamando os fiéis católicos a assumir a responsabilidade de combater a cultura abusiva, promovendo uma cultura do cuidado. “A corrupção do bem” não busca uma análise exaustiva, mas sim servir como um guia inicial para despertar a consciência e estimular discussões frutíferas sobre este desafio crucial enfrentado pela comunidade católica no Brasil e no mundo.

Sobre a autora

Rayhanne Simon Dardengo Zago, psicoterapeuta e escritora. Especialista em Saúde Mental, Dependências Tecnológicas e Abusos em contexto eclesial. Pós graduanda em “Vida religiosa consagrada, ressignificando relações”. Trabalha com atendimento terapêutico, formação na área de prevenção e conscientização aos abusos e coordena um projeto voluntário de acolhimento de vítimas de abusos em contexto eclesial. Católica, mora no Espírito Santo com o marido e seus três filhos.

Informações adicionais: Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Pós graduada em Saúde Mental, em Psicologia Humanista e em Psicologia aplicada às Dependências Tecnológicas. Certificada em Psicologia Positiva e Educação Sexual, Emocional e Prevenção ao abuso sexual. Além disso, possui cursos de Psicoterapia, Neurociências, Terapia Cognitivo Comportamental, Tecnologia para crianças e adolescentes, Prevenção a abusos, Sexualidade infantil, Diretos Humanos e Vitimologia, Seitas Abusivas, Psicologia da Religião, Abusos em contexto eclesial e cultura dos abusos, Proteção das infâncias e pessoas vulneráveis na Igreja Católica, entre outros. 

Como comprar e ler?

O livro foi publicado em formato digital para Kindle. Contudo, você não precisa ter um dispositivo Kindle para lê-lo. Neste vídeo está explicado como ler através do navegador ou do aplicativo Kindle para celular, como criar uma conta Kindle e comprar livros.

Neste link você realiza a compra do meu livro.

Depois de ler, sinta-se à vontade para enviar um feedback para o meu email: rayhannesd@gmail.com

Até mais!

 

Terapeuta e Escritora

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *