Psicologia

Aprender a descansar

Tempo de leitura: 22 minutos

O padre Francisco Insa, antes de se ordenar, estudou Medicina e se especializou em Psiquiatria. Atualmente é professor de Teologia Moral na Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Roma) e, dentre suas áreas de pesquisa/ensino, destacam-se a bioética e a psicologia aplicadas à formação cristã.

Fernando Sarráis é doutor em medicina e psicólogo. Leciona psicopatologia da educação e psicologia social na Universidade de Navarra (Espanha).

Destaco estas informações no início deste texto, pois os referidos autores serão utilizados como base para a escrita deste artigo, especialmente as obras “A formação da afetividade: uma perspectiva cristã” e “Aprender a descansar”.

Pouquíssimo se fala aqui no Brasil, especialmente no âmbito religioso, das patologias afetivas e das demais doenças psíquicas. Elas ainda são um tabu, assim como a educação para uma saúde mental e afetiva.

O padre Francisco escreveu em seu livro:

Uma visão muito pobre e equivocada da natureza humana induz a ver o mundo afetivo com um pouco de receio, como uma fonte de dificuldades para levar impávida cristã sólida. Os afetos representariam apenas uma ameaça: a de cair no sentimentalismo. Aqueles que tem essa visão pressupõe – habitualmente de forma implícita – que a virtude seja maior à medida que o indivíduo é capaz de agir contra aquilo que sua sensibilidade lhe pede.

Um exemplo é a ética kantiana, para a qual as ações realizadas por gosto não tem valor moral positivo e podem ter até um valor negativo. Essas ações seriam um modo de buscar o proveito próprio e a única motivação eticamente meritória seria agir pelo sentido do dever.

Este tipo de ética costuma formar pessoas voluntaristas, tensas, insensíveis. Poderão até alcançar um céu muito grande, mas dificilmente serão felizes de verdade na terra.

Funcionar apenas por um dever a cumprir é insuficiente e se torna exaustivo. Agir porque quero – por amor – enche de sentido a própria vida. E uma afetividade bem formada faz que se queira o que é bom. Formar a afetividade é ajudar as pessoas a serem livres e a terem no mais íntimo do ser um antegosto do Céu.”

Eu vou escrever sobre a formação da afetividade mais concretamente em posts vindouros. Hoje quero me deter à Prevenção das Patologias Afetivas e falar especialmente sobre o Descanso.

Afinal, não estamos apenas em uma época de frenesi e ativismo, superexcitados cognitivamente através das tecnologias, mas também diante de uma sociedade que desaprendeu a descansar, ou pior ainda, que não considera descansar uma necessidade e a encara com o preconceito de uma fraqueza.

Fernando Sarrais em seu livro “Aprender a descansar” escreveu que “Por incrível que pareça, o descanso físico e mental é um dever moral. E quando não o encaramos como tal, corremos o risco de ver a nossa vida afundar como uma canoa furada, muitas vezes levando consigo aqueles que nos rodeiam.”

A necessidade de descansar

Quando uma pessoa está no limite do cansaço, cheia de tensão psíquica, começa a sentir-se impelida a fazer atividades de evasão ou compensação. Com a diminuição da força de vontade tendem a não conseguir evitar o que não devem e tem menor capacidade de fazer o que devem. Tudo isso causa frustração e acaba em um círculo vicioso: cansaço – evasão – vício – frustração – evasão; explica o doutor Fernando.

Muitos homens tendem ao esgotamento físico e mental especialmente devido ao trabalho profissional, mas é entre as mulheres que as taxas de incidência dobram. Sem dúvidas pela jornada dupla de muitas mulheres que além de trabalharem fora de casa também cuidam de seus lares; e pela velha culpa feminina de não se sentir à vontade em cuidar de si mesma e em se sentir pressionada a se anular completamente até ao ponto de adoecer, pelo outro.

Sarráis escreveu acertadamente que quem trabalha cansado pode dar conta do recado, mas não pode fazê-lo com qualidade.

Em um artigo, Carlos Ayxelà escreveu oportunamente que “como tudo em nossa vida, também aqui Deus conta com que façamos bem as coisas todos os dias: trata-se de equilibrar a dedicação às nossas obrigações, com a responsabilidade de recuperar as forças para continuar atendendo-as. Descansar, por isso, não é um luxo nem uma forma de egoísmo: é uma necessidade, um dever. “Se cuida”, dizemos, às vezes, entre amigos e familiares, quando nos despedimos: lembramo-nos mutuamente que nossa saúde é um dom de Deus. Um dom para servir aos outros, que é necessário proteger, sem dramatismos, mas com decisão.

O Papa nos lembra também na Evangelii Gaudium com aquele sábio e paternal conselho do Eclesiástico: «Meu filho, se algo tiveres, faze com isso algum bem a ti mesmo (…). Não te prives de um dia feliz “ (Eclesiástico14,11.14).

Não é raro ver, mesmo dentro do cristianismo que crê na harmonia integral do homem, pessoas com conhecimentos e espiritualidade defasadas e desatualizadas, em muito até mesmo anti-humanas e anti-evangélicas. Um discurso que supervaloriza o sofrimento e o cansaço como meios de atingir a perfeição está em desequilíbrio.

Deus conta com a tarefa constante e esforçada dos cristãos para levar o mundo até Ele, junto a tantas pessoas honradas. Mas necessita que, como parte dessa tarefa, cuidemos a nós mesmos, porque o esforço do dia a dia nos desgasta e necessitamos nos refazer”; escreveu sabiamente Wenceslao Vial do Opus Dei.

No ponto 290 de Forja, São Josemaria nos deixou este ensinamento: “Ele, perfectus Deus, perfectus Homo – perfeito Deus e perfeito Homem –, que tinha toda a felicidade do Céu, quis experimentar a fadiga e o cansaço, o pranto e a dor…, para que entendêssemos que ser sobrenatural pressupõe ser muito humano”.

O Papa Francisco no Angelus de 18 de julho deste ano, nos ensinou: “Aos Apóstolos, que regressam cansados da missão e narram com entusiasmo tudo o que fizeram, Jesus dirige com ternura um convite: «Vinde à parte, para um lugar deserto, e descansai um pouco» (v. 31). Convida ao descanso. Agindo assim, Jesus oferece-nos um ensinamento precioso. Embora se regozije ao ver os seus discípulos felizes por causa dos prodígios da pregação, não se detém em elogios e perguntas, mas preocupa-se com o seu cansaço físico e interior.

Prevenir é o melhor remédio

Fernando Sarrais em seu livro “Aprendendo a descansar” descreve que “existem, a traços largos, dois tipos de cansaço: o físico e o psicológico. Estão entrelaçados porque a pessoa humana é uma unidade de corpo, mente e espírito. Por isso, um tipo de cansaço costuma influir no outro e piorá-lo, gerando pequenas – ou nem tão pequenas – espirais de fadiga. Quem está fisicamente esgotado percebe que a cabeça e o coração não respondem, ficam embotados. E quem padece cansaço psicológico, facilmente somatiza essa fadiga: sofre-a em forma de doenças ou desgaste corporal que acentuam seu cansaço interior.

Essa segunda espiral é especialmente sutil e devemos prestar atenção a ela, porque pode passar despercebida para quem a padece e para aqueles que o rodeiam. Sem apreensões, é necessário vê-la se aproximar porque a melhor cura é a prevenção, e existem dificuldades na vida que não são motivadas pela falta de entrega ou de interesse, mas, fundamentalmente, pelo cansaço.”

Sarrais nos dá que a primeira e melhor maneira de descansar é aprender a não se cansar excessivamente, a não se esgotar. Isso não significa economizarmos esforços ou tornar-nos rígidos: significa simplesmente reconhecer os próprios limites, e também, às vezes, desprender-se um pouco dos resultados do nosso trabalho. Deus quer que nos gastemos por amor e não que nos desgastemos de modo que o amor se extinga porque o edifício foi derrubado como acontece com a casa construída sobre a areia (cfr.Mt7,24-27). “Abatimento físico. Estás… arrasado. – Descansa. Pára com essa atividade exterior. – Consulta o médico. Obedece e despreocupa-te. Em breve regressarás à tua vida e melhorarás, se fores fiel, os teus trabalhos de apostolado”, escreveu São JoseMaria no ponto 706 de Caminho.

É que não és incansável…, e necessitas de mais tempo para ti; tempo que será também para as tuas obras, porque, no fim das contas, tu és o instrumento”, também disse São Josemaria.

Quando falamos sobre prevenir o esgotamento estamos lidando com algo fundamental que é o nosso modo de viver. Por isso, precisamos diariamente equilibrar momentos de cansaço e descanso, entre atividades que consomem as energias e as devolvem. Com a prática, consegue-se introduzir esse equilíbrio na vida ordinária até fazê-lo automático. Assim se obtém uma melhor qualidade de vida e se previne as consequências patológicas do cansaço em excesso.

A sabedoria popular aconselha a não deixar para amanhã o que se pode fazer hoje, porque é fato que às vezes atrasamos decisões, esforços, iniciativas pela simples preguiça de empreendê-las. No entanto, tão importante é ler esta frase do lado direito como do avesso: junto à diligência para fazer as coisas, é bom se dizer também: “deixe para amanhã o que você não possa fazer hoje”; não carregue o hoje com mais do que você pode fazer, e não deixe para amanhã o descanso que você necessita hoje. O livro da Sabedoria expressa isso de maneira decisiva: “Meu filho, não empreendas coisas em demasia, porque, se adquirires riquezas, não ficarás isento de culpa; se empreenderes muitos negócios, não poderás abrangê-los; se te antecipares, não te sairás bem deles” (Si11,10).

Para mim, escrevia São Josemaria, sempre ficam coisas para o dia seguinte. Temos de chegar à noite, depois de um dia cheio de trabalho, com tarefas de sobra para o dia seguinte. Temos de chegar à noite carregados, como burrinhos de Deus”.

Nisto, como em tudo, convém equilibrar as coisas: não se trata de fazer-nos impermeáveis aos imprevistos, frequentes na vida de todos os dias, mas também não deixaremos – na medida em que possamos evitá-lo – que a vida inteira seja um grande imprevisto.

Existem pessoas muito atentas e capazes, a quem custa muito dizer “não” a determinados pedidos: às vezes, preferem ocupar-se de uma tarefa, mesmo que vejam que não têm tempo ou energias para acometê-la a dar um desgosto ou ficar mal com uma negativa.

Outras vezes, assumem a tarefa porque sabem, não por presunção, mas porque lhes consta, que podem resolver o assunto melhor do que outras pessoas. Também há aquele que, por ser sensível aos problemas dos outros, tende a carregar muitos deles. Ou que, porque tem um olhar atento e profundo para os detalhes, não consegue concluir as tarefas, que se amontoam, formando uma montanha que o oprime. Talvez uns e outros meçam mal as suas forças, e aconteça com eles como com uma carroça sobrecarregada: de pouco serve a força dos cavalos se os eixos da carroça se deformam pelo peso. Pode ser até que, em um primeiro momento, consigam rodar, mas terminarão por se deformar ou se arrebentar.

Pode produzir-se, às vezes, um efeito perverso que acentua o cansaço: as outras pessoas tendem a pedir mais favores a quem raramente dá uma negativa e procura trabalhar bem ou porque se aproveitam de sua boa-fé ou porque não são conscientes – às vezes não podem sê-lo – da carga que arrasta. Quando o cansaço começa a se fazer notar, aquela pessoa que nunca dizia não talvez estoure ou responda com maus modos, irritada com o mundo, para o assombro dos outros: como cada um sabia unicamente do favor que lhe tinha pedido, e somente ela levava o peso do conjunto, sua reação lhes parece incompreensível. E assim, uma pessoa com uma disposição sincera de ajudar pode se tornar um pouco amarga e solitária. Também aqui reza a sabedoria da Bíblia: “Há pessoas que trabalham, se afadigam e se atropelam e, apesar de tudo, estão sempre atrasadas”. (Si 11,11).

É necessário aprendermos a ler os sinais de cansaço, em nós e nas outras pessoas. Nem todo mundo se cansa pelos mesmos motivos, nem com os mesmos prazos. Mas os sintomas se assemelham. Uma pessoa cansada tende a ver as coisas com mais pessimismo do que o normal, a responder com rispidez, a ficar abatida e sem vontade de fazer as coisas, em se multiplicarem as preocupações, a se revoltar interiormente, reclamar e se amargurar.

Em algumas ocasiões, o cansaço pode ter sua origem na frustração de quem não aceitou que nem sempre nossas expectativas sobre as coisas e a pessoas se cumprem. O problema não está sempre no excesso de atividades, mas, sobretudo, nas atividades mal vividas, sem as motivações adequadas, sem uma espiritualidade que impregne a ação e a torne desejável. Daí que as obrigações cansem mais do que é razoável, e às vezes façam adoecer. Não se trata duma fadiga feliz, mas tensa, gravosa, desagradável e, em definitivo, não assumida.

O descanso, em suas múltiplas formas, é uma mudança de ares. Assim como o ambiente de um quarto fechado vai ficando carregado depois de um tempo e precisa de ventilação, a vida cotidiana, inclusive quando não traz grandes turbulências consigo, cansa: se não procuramos arejar-nos, o tédio ou a rotina se introduzem facilmente. O verdadeiro descanso não é, no entanto, evasão: trata-se de separar-se um pouco da realidade cotidiana para voltar renovado, e não fugir ansiosamente dela.

Nesse sentido, um bom termômetro da qualidade do descanso é a sobriedade. Sem dúvida, o aspecto lúdico ou festivo forma parte do repouso, mas não convém confundir a festa com o excesso, ainda que esse modo de viver tenha se estendido. É muito sábio também para isso o conselho de: “dar um pouco menos que o necessário” ao corpo: festejar evitando a saciedade ajuda a saborearmos mais as coisas.

A sobriedade tira de nós a ansiedade que leva a viver mendigando evasões constantemente, e sofrendo cada vez que precisamos deixá-las. Por isso é bom, por exemplo, prescindir às vezes da música, ainda que tenhamos possibilidade técnica de ouvi-la todo o tempo. Ou esquecer por um momento da nossa conexão de internet, para conectar com os que nos rodeiam, para estar atentos a eles. Questionar, por fim, certos “imperativos” aos que somos submetidos pela constante oferta de possibilidades de ócio, que, às vezes, podem privar-nos da liberdade de um descanso simples e alegre.

Um modo de vida saudável

Já Entendendo um pouco mais sobre o cansaço, podemos ver algumas sugestões que o padre Francisco nos dá para termos um modo de vida saudável. Transcrevo os próximos parágrafos com citações literais das páginas 365 a 381.

a) Um estilo de vida saudável

Convém incorporar hábitos de vida saudáveis: evitar o sedentarismo, ter uma alimentação saudável e equilibrada, ter horário para as refeições, fazer exercícios físicos regularmente.

Também é necessário cuidar da higiene mental. Existem hábitos que nos ajudam a estar psiquicamente melhor. Exige frear, deixar de produzir e dar um tempo para si. Não devemos nos preocupar com os escrúpulos de que nos roubam tempo (da família, do apostolado). Trata-se de um investimento que se reflete em todos esses âmbitos, porque se estivermos bem, realizaremos melhor todas essas atividades.

É preciso se cuidar para estar bem, porque merecemos, porque é necessário que a natureza esteja em boas condições para acolher adequadamente a graça, porque a caridade começa consigo mesmo. E então estaremos em condições de amar e cuidar dos demais.

b) Cuidar o descanso

É importante dormir as horas necessárias. Um repouso após a refeição, adiar o horário de se levantar no fim de semana, um dia de sonoterapia, combinar com o cônjuge os dias em que cada um se levantará a noite para cuidar das crianças pequenas, etc.

Um déficit acumulado de sono acaba provocando problemas psíquicos importantes.

É preciso procurar um tempo de repouso diário para arrefecer o motor, recuperar as forças e só depois voltar ao trabalho. As pessoas que não sabem descansar acabam no esgotamento físico e psíquico. O conteúdo desse descanso depende das circunstâncias de cada pessoa, mas alguns minutos para “se desconectar” lendo um livro ou notícias, escutando música na tranquilidade do próprio quarto, ou em algum lugar que permita afastar do agito cotidiano.

Como não é possível desconectar por muito tempo, será preciso saber descansar em família. Toda família precisa ter também momentos relaxantes para estarem juntos sem pressa. Uma boa ocasião são as refeições.

É preciso dar a si próprio períodos mais prolongados de repouso semanais e mensais. E fazê-los sem pressa. Esses períodos são ocasiões para ter contato com outros membros da família e amigos, etc. Este descanso acompanhado atende a uma necessidade que é maior que a do repouso: amar e ser amado. Já ouvi dizer que é preciso saber se mortificar pelos demais e estou de acordo. Porém creio que é mais necessário aprender a desfrutar com os demais.

Costumo recomendar o descanso improdutivo: dar um passeio, ler, ver obras de arte, escutar música, tocar um instrumento, pintar, resolver quebra cabeças, conversar sobre temas prosaicos, enfim, desfrutar de tudo de bom que a vida tem e “perder tempo” com os demais, que muitas vezes será o melhor modo de aproveitá-lo.

Convém evitar o descanso passivo: ligar a televisão, o computador, o celular para “dar uma olhada” e perder tempo ali, ficando com a sensação de vazio. É melhor gastar este tempo com atividades que realmente descansem o corpo, a mente e o espírito. Que tenham algo de cultural ou intelectual (que também pode ser encontrado nesses meios quando usados com moderação).

Também pode se recorrer a técnicas para descarregar o estrear como respiração e relaxamento muscular.

Não precisamos realizar tudo isso, convém que tentemos praticar algumas que sejam razoavelmente possíveis dentro da nossa realidade. Mas não esqueçamos que não se trata de um capricho ou uma evasão das próprias obrigações e sim de uma necessidade física e psíquica. A obrigação de descansar também faz parte do quinto mandamento aplicado a si mesmo.

c) Otimizar o tempo

Adianto uma premissa fundamental: não é possível fazer tudo. Mas, com um pouco de reflexão, é possível dar conta de mais coisas.

Temos de evitar os ralos de tempo. São períodos que desperdiçamos tempo com coisas que não são urgentes nem importantes: tempo na internet, conversas fúteis, mensagens desnecessárias, excessiva verificação de notificações, atividades banais, assistir reuniões ou cursos que na realidade não são do nosso interesse, etc.

Outra coisa que precisamos aprender: postergar tarefas que não são urgentes e delegar tarefas que não precisam necessariamente serem feitas por nós mesmos.

Planejar uma rotina, o dia a dia, é necessário. Mas não se deve apertar muito o planejamento, mas deixar lacunas para que se possa reprogramar atividades quando for necessário. Ele deve ser flexível, dando margem para eventualidades.

É preciso aprender a ir dormir com uma lista de pendências e dormir bem. É preciso também dizer não a algumas demandas que põem em risco nosso bem estar.

Quando o trabalho se torna mais pesado, ou nos momentos de cansaço, ajuda começar o dia com uma atividade agradável.

d) Uma vida de piedade à prova de estresse

Há aspectos da religiosidade que podem favorecer ou piorar os sintomas afetivos, como um incremento dos sentimentos de culpa, a falta de flexibilidade, escrúpulos morais ou a tensão para se ajustar a ideais inalcançáveis.

Precisamos ter uma visão de Deus como Pai que nos ama. Nos espera uma recompensa no Céu. É necessário reorientar o conceito de santidade, que não consiste nem em ser impecáveis nem em “fazer coisas” (práticas de piedade, obras de serviço, atividade apostólica) mas em amar.

Existe gente sinceramente empenhada em um caminho cristão que se sobrecarrega de “obrigações com Deus ou com os demais” e cai em um ativismo que o Papa Francisco qualificou como o “pelagianismo atual”, que se resume em deter-se nos meios esquecendo o fim.

Convém valorizar a oração “improdutiva”: a leitura meditada dos evangelhos e a oração silenciosa diante do Santíssimo Sacramento.

Estratégias para aprender a descansar

Transcrevo literalmente as citações abaixo do livro Aprender a descansar, do doutor Fernando Sarráis.

A) Descanso físico

O repouso

O verbo repousar significa “permanecer em calma ou quietude”. A quietude física (sentado, deitado ou de pé) descansa os músculos do corpo, mas com a condição de que seja acompanhada de quietude ou calma interior. O descanso é um processo, uma atividade que se desenvolve no tempo, por etapas: a decisão voluntária de descansar, a cessação da atividade que nos cansou e por fim, a calma interior. É na etapa da calma interior em que se consegue maior descanso físico e psíquico.

Esta calma interior não depende apenas de exercícios físicos, mas do controle do mundo interior (pensamentos, afetividade, memória, imaginação e percepção) e do esforço por evitar tudo o que possa provocar emoções negativas que causam tensão psíquica e com decorrer do tempo levam ao esgotamento.

O sono

Um adulto necessita ter por volta de oito horas de sono noturno. Convém ter uma hora habitual para deitar-se e levantar-se. Cuidar do descanso noturno é um modo esplêndido de manter um bom equilíbrio entre o cansaço e o descanso.

A maioria das pessoas que não dormem bem ou dormem pouco acabam por ter problemas psicológicos. Com o decorrer do tempo – principalmente q partir dos 40 anos – pagam o seu tributo sob a forma de doenças psicossomáticas ou caem em depressão.

Quando se dorme menos tempo à noite e se sente sonolência durante o dia, é muito bom fazer uma cochilada breve. Não deve ultrapassar 30min para não acordar mal disposto e irritadiço.

Dormir bem contribui para passar um bom dia e a qualidade do dia determina a qualidade do sono noturno. Ter um mau dia – por problemas, preocupações, desgostos, temores, irritações frustrações – leva a ter uma má noite de sono. Daí a importância de uma vida tranquila. Isto não é coisa que se consiga passando a viver numa ilha paradisíaca ou encerrando-se numa bolha mágica. Consegue-se cultivando uma atitude otimista, bom humor e paciência.

B) Descanso psíquico

As preocupações

Se as preocupações são muito intensas podem provocar esgotamento. Não podemos controlar o mundo exterior e moldá-lo a nosos próprio gosto. Em contrapartida, é possível controlar o nosso mundo interior.

Aceitar não significa conformar-se. Aceitar é não queixar-se, não lamentar-se, não aborrecer-se e não entristecer-se quando se sofre. Conformar-se, pelo contrário, é permanecer passivo, não fazer nada para melhorar a situação. É preciso, portanto, unir a aceitação ao inconformismo: a aceitação não só ajuda a encarar melhor o sofrimento inevitável como também permite pôr remédio ao sofrimento evitável.

Todos temos atividades que expulsam as preocupações durante algum tempo: a prática de algum esporte, jogos, a leitura, música, cinema, etc. Quando se acaba de realizar essas atividades pode ser que a preocupação volte, mas será de um modo diferente, porque se terá descansado dela.

A rotina

Todos, mesmo os que gostam de rotina, podem acabar sentindo cansaço e fastio com uma vida sem mudanças. Especialmente as mulheres sentem isso, por isso estão habitualmente mudando as roupas, a decoração da casa , a disposição dos móveis, ajustando a rotina, criando novidades para evitar a monotonia.

Todos nós temos a necessidade, em maior ou menor grau, de mudar as nossas rotinas de vez em quando. Àqueles a quem estão muito cansados, é bom mudar de ares. Algum passeio ou saída.

A tensão ou o estresse

O estresse em si não oferece perigo enquanto nos mantivermos nuns limites que não nos causem sintomas patológicos e enquanto mantivermos um bom equilíbrio entre os momentos de estresse e os de relaxamento.

O estresse crônico acaba se desenvolvendo em quem tem um modo de vida extenuante. Os hábitos de vida são estressantes e acabam se enraízam e se tornando difíceis de erradicar.

Algumas manifestações de estresse crônico: dificuldade de concentração e memória, perda de interesse, lentidão de raciocino, diminuição da capacidade de esforço intelectual (evita-se pensar e recorre-se a contínuos estímulos visuais e auditivos), cefaleia, insônia, gastrite, eczema, infecções (especialmente virais), etc.

As responsabilidades

Uma das coisas que mais cansam psicologicamente é ter responsabilidades. Mas o problema não são as responsabilidades, mas a hiper-responsabilidade.

Há pessoas que pensam que o mundo pararia se deixassem de fazer tudo o que fazem; é como se carregassem o mundo nas costas. Outras não se conhecem bem e não sabem quantos talentos tem, mas pensam que devem produzir como as que têm dez. Imaginam que podem arcar com tudo e que devem ser protagonistas de tudo. Essas pessoas precisam aprender a deixar-se ajudar.

É preciso ter menos autoexigencia para não se frustrar e se sentir culpado quando as coisas não saírem de forma perfeita. É preciso aprender a pedir ajuda. E também a dizer não. Além de aceitar com bom humor o fracasso.

As pessoas carregadas de responsabilidades têm maior necessidade de descansar no meio das suas ocupações através de alguns métodos: distrair-se com atividades lúdicas, viajar, alternar as ocupações, manter o bom humor, pedir ajuda, delegar responsabilidades, saber dizer não.

A preocupação pela imagem

Ser querido e estimado pelos outros é uma necessidade psicológica. Na raiz dessa necessidade de agradar e ser querido encontra-se a autoestima, que dá à pessoa uma sensação de segurança e lhe transmite paz e tranquilidade. Durante a infância a principal fonte de autoestima procede das pessoas que nos rodeiam. Na vida adulta, deve proceder de um juízo de valor pessoal.

O hábito de comparar-nos continuamente com os outros é fonte de tensão.

O tédio

Não tem a ver somente com as atividades que realizamos, mas também com a falta de sentido, com o valor existencial que se dá a essas atividades. Devemos realizar tudo por amor.

Os outros

Muitas vezes será preciso descansar dos outros dedicando tempo para si mesmo. Ocupando-se num trabalho manual, ouvindo um artista favorito, passeando sem companhia, ou mesmo não fazendo “nada”, mas com paz.

Nem todos conseguem facilmente, sobretudo os que se sentem egoistas quando não estão “preocupados” com os outros. São grandes cuidadores dos outros mas maus cuidadores de si mesmos. Devem ser conscientes de que é preciso cuidar do cuidador, de que para dar é preciso ter, o que exige carregar as baterias desgastadas para continuar a ajudar.

As pessoas habituadas a viver para os outros tem grande dificuldade em mudar de atitude porque se sentem inúteis e experimentam como que uma síndrome de abstinência. É o caso das mães que tiveram muitos filhos e, quando chegam aos 40 ou 50 anos, os filhos já não precisam tanto delas.

Convém pois, que todas as mães continuem a fomentar amizades e relações fora do âmbito das pessoas de quem cuidam habitualmente, na previsão de que chegue um momento em que não tenham ninguém por quem velar. Além disso, nos momentos livros, convém que cultivem algum hobby relaxante para continuarem a praticá-lo quando mudarem as circunstâncias e assim não sentirem esse vazio afetivo que costuma assaltar as pessoas .

A perfeição

A busca pela perfeição produz uma tensão contínua, porque a perfeição não é deste mundo. Podemos melhorar em muitas coisas, mas não seremos perfeitos. Acaba ficando uma insatisfação, um mal estar e frustração em quem vive dessa forma. E o olhar fica tão negativo que começamos apenas a ver as imperfeições.

A pressa

Fazer as coisas depressa ou ter a sensação de pressa interior, ainda que não se faça nada, causa tensão psíquica.

Pessoas que costumam fazer várias coisas ao mesmo tempo criam nelas uma tensão muito maior do que aquelas que fazem apenas uma coisa de cada vez e a fazem com calma.

Dar e ajudar

É preciso aprender a receber ajuda, afeto, daqueles que nos querem bem, sem nos sentirmos humilhados ou em dívida.

Para ajudarmos os outros temos de começar por ajudar-nos a nós mesmos.

Em resumo

São Atividades que descansam:

Atividade física: Não precisa ser diariamente, nem em longos tempos. Que seja algo constante e adaptado a rotina e realidade. Os exercícios são importantes para a saúde do corpo e da mente, liberam endorfinas que são hormônios relaxantes e de alegria, além de contribuírem para um melhor sono noturno. Os exercícios físicos nos predispõem a não nos extenuarmos tão facilmente nas nossas ocupações diárias, além de liberarem tensão emocional e afetiva. Quando temos algum problema ou preocupação, quando precisamos tomar alguma decisão, ajuda muito sair para dar uma caminhada.

Em uma família, o tempo para fazer atividade física nem sempre é possível. Uma estratégia é aproveitar momentos como saídas com as crianças pra parquinho, combinar com o cônjuge para fazer algo a noite quando as crianças dormirem, ou que um possa ficar com as crianças para o outro sair. E até mesmo fazer exercícios em casa. São diversas as possibilidades que vão depender da realidade de cada pessoa e família.

O descanso dos sentidos: estamos inseridos em uma poluição dos sentidos. Os ruídos auditivos e visuais, os estímulos, os cheiros, as decorações, tudo impacta em nosso cansaço. Ambientes com excessos de estímulos (coisas em excesso, e cores/formas chamativas) não permite um relaxamento. A casa em ordem, um espaço limpo e arejado, com cheiros agradáveis, comida simples e bem feita, são práticas diárias que auxiliam muito no descanso. Todo mundo experimenta aquela sensação de conforto e paz quando a casa está limpa e quando tem cheiro de bolo quentinho. Além disso, uso ordenado da tecnologia e momentos de desconexão são essenciais.

Rolar o feed das redes sociais e se encher de seriados gera o efeito inverso do descanso. Ficamos mais sobrecarregados cognitivamente. Ouvir músicas e palestras o dia inteiro, a televisão como som de fundo, tudo isso estressa nossos sentidos e nos deixa mais tensos e irritados.

A arte: é uma terapia, não só por nos permitir pausar e contemplar, não só por nos transceder, mas também por permitir que nos expressemos. Então hábitos artísticos são excelentes formas de descansar: tocar instrumentos, dançar, escrever, pintar, jardinagem, esculturas, etc.

A leitura: Quando falamos de leitura de descanso, não estamos nos referindo a leituras densas e de estudos. Estamos tratando de leituras leves, de literatura, histórias, notícias, contos, etc.

Os jogos: excelente para descansar em família.

A contemplação: é viver sem pressa, fazendo as coisas com calma, cultivando a quietude interior.

Outras formas são o contato com A natureza; A família e os amigos, O bom humor, As ocupações manuais e, sem dúvidas, A oração.

Conclusão

É preciso então primariamente entender a necessidade do descanso para todos nós. Descansar não é evitar trabalhar ou sofrer, não é fraqueza, e sim cuidado com nosso corpo e com a nossa alma.

Cada um de nós se cansa em proporção diferente. Assim, o descanso para uns será mais rápido enquanto para outros será mais lento. E também em diferentes atividades. Não somos iguais. Por isso há pessoas com maior tendência natural a suportar trabalhos noturnos ou hiper estressantes. Temos de levar em conta também que algumas pessoas possuem doenças físicas e psicológicas que implicam em levar vidas menos ativas.

Devemos ficar atentos para não nos compararmos com o outro e nem exigir do outro a nossa medida. Quando o assunto é cansaço, o segredo é o autoconhecimento para ler os sinais de limite e estabelecer as estratégias para o equilíbrio. Além de compreender que o outro não precisa dar o quanto eu dou, ele pode se cansar mais rápido ou precisar de mais tempo de descanso. Ou ao contrário, eu posso ser mais rápido em me cansar e mais lento em descansar e nem por isso me dedico ou me esforço menos em dar o meu melhor.

Não tenhamos dúvidas de que a graça nos socorre e sustenta em situações difíceis que a providência nos dá. Há situações onde é muito difícil descansar, e nós conseguimos vencê-las e nos fortalecemos. O problema é quando o ordinário da vida se torna a exaustão.

Há circunstâncias da vida que podem ser especialmente desgastantes para uma pessoa: a doença de uma pessoa da família, o nascimento de um novo filho, um período especialmente exigente no estudo ou no trabalho, um acúmulo de problemas variados… Essas situações, principalmente se duram mais do que o previsto, requerem defender tempos ou modos de descansar, ainda que sejam pequenos, para evitar que o desgaste deixe um rastro duradouro ou se converta em cansaço crônico. Nessa situação, ter o apoio daqueles que nos rodeiam é tão decisivo quanto ter a prontidão para pedir ajuda, porque, às vezes, os outros podem não ser conscientes do grau de esgotamento que nos afeta.

Para a família funcionar bem, todos os membros tem de estar bem. Por isso é preciso evitar a sobrecargas. Estabelecer estratégias, se amparar mutuamente… É preciso aprender “a carregar os fardos uns dos outros”. Sendo assim, na família, todos temos de nos dispor para que o outro possa descansar. Ou contratar ajuda se for necessário e possível.

É claro que há situações onde um tem de se sacrificar mais do que o outro, mas isso não pode ser desculpa para os dias comuns. Infelizmente isso costuma recair mais sobre a mãe/esposa, por isso é preciso que os homens criem essa consciência de que precisam apoiar o descanso necessário de suas esposas tanto quanto elas de o apoiarem. A família não é uma hierarquia sobre quem é mais importante que quem, não é uma relação unidirecional onde a mulher só da e o homem só recebe.

Este costuma ser um tema de conflito nos casais, porque pode haver um exagero. O cônjuge (esposa ou esposo) pode abusar deste descanso sobrecarregando o outro. Em uma família, todos têm direito a descansar e para isso devem existir estratégias que possibilitem isso de uma forma harmônica para ambos.

Tambem é preciso ensinar aos filhos a descansar e a se divertirem, dando oportunidade e também vivendo esses momentos com eles. Cuidando que tenham um bom sono, que se alimentem bem, que repousem, brinquem, façam coisas que gostem, apreciem as coisas boas da vida, etc.

Quando as crianças são sobrecarregadas precocemente com obrigações e estilo de vida adulto, eles vão tender a compensar lá na frente com uma anormalidade como a infância ou adolescência tardia, ou com a rebeldia ou o descompromisso na vida adulta.

Há uma maturidade em cada etapa da vida humana. A fase da infância e da adolescência não são para serem vividas com toda a responsabilidade e esforço da vida adulta. As exigências devem existir mas dentro das capacidades dos nossos filhos.

Estar descansado nos predispõe a uma convivência familiar e conjugal mais harmônica e saudável. Com menos conflitos, vida sexual ativa, com uma reação mais afetiva e menos reativa, etc.

Mudar de ares não é evasão. É preciso aprender a pedir ajuda quando estiver no limite.

Não se pode acomodar aos suplementos. Eles são caros e muitas vezes acabam sendo uma forma de driblar o problema real ao invés de serem só uma ajuda para dias atípicos. Acabam se tornando algo necessário e até mesmo uma dependência para alguns, que passam a não conseguir mais viver sem dar aquele upgrade.

Especialmente para as mulheres deixo este artigo: https://rayhannezago.com/a-mulher-e-o-seu-valor-pessoal/

Em muitos casos, a situação de esgotamento, de estresse, acabará incorrendo na necessidade de limitar os nascimentos para cuidar de si, do casamento ou dos filhos já nascidos.

O martírio é uma graça especial e extraordinária que podemos receber de Deus caso Ele queira. E a teologia mística ensina que não devemos sequer pedir esta graça. Portanto, na vida ordinária, buscar o martírio , ou seja, viver além das nossas forças é ingenuidade ou soberba.

É preciso aprender a sofrer o cansaço com alegria. São Tomás more procurava superar a fadiga com senso comum e bom humor, porque é tão necessário dar importância ao nosso repouso como tirar importância ao cansaço.

A necessidade de descansar não é uma preguiça ou ter expectativas irreais sobre não passar por situações cansativas. Também não é questão de ficarmos obcecados com o descanso. Todos os dias nos cansaremos, basta equilibrarmos com o descanso diário. Esse descanso vai variar de acordo com a pessoa, a idade, a família, o estilo de vida, os gostos, etc.

Se formos criativos, tivermos um pouco de ordem e expectativas reais para estratégias de descanso, veremos quanto conseguiremos adequar em nossa realidade.

A Terapia é uma boa para quem está com muitas tensões afetivas e emocionais, precisando colocar alguma ordem interior; ou em casos de síndrome de esgotamento e stress elevado, onde já notam-se sinais de depressão e ansiedade

Muito se fala sobre as mães e a necessidade da augusta paciência. É o drama de toda mãe. Contudo, para sermos mais pacientes com nossos filhos, às vezes precisamos menos de cursos e entendimento da virtude, menos de esforço pessoal e tensão, e mais descanso e relaxamento. Mais autoconhecimento e graça de Deus.

Ajuda muito a fazer listas para tirar as preocupações. E Desabafar as tensões emocionais com amigos, diários ou atividades que nos permitem extravasar.

Começar o dia antes da casa acordar, com alguns minutinhos de silêncio e oração íntima também são excelente estratégia para não se deixar arrastar pela tormenta do dia.

A compreensão a respeito do homem evoluiu com o tempo tanto cientificamente quanto com a própria evolução da doutrina da Igreja. Portanto, a providência também serve-se da nossa realidade histórica para dar a conhecer como devemos viver bem.

Em nossa época, embora haja uma fuga do sofrimento por parte dos mais acomodados, não precisamos partir para o outro extremo de buscar sofrimento atrás de sofrimento. Deus nos deu razão, inteligência, nos deu medicina, psicologia, para entendermos como podemos ter uma vida harmoniosa, equilibrando o sofrimento inevitável com a nossas necessidades humanas.

É claro que existem muitas pessoas egoístas que dedicam tempo a si mesmas para não se dedicarem aos outros. Contudo, cuidar de si mesmo não deixa de ser necessário só porque algumas pessoas abusam disso.

Quando temos uma filosofia de vida a partir de uma perspectiva sobrenatural e aprendemos a cuidar de nós mesmos, cresce enormemente a nossa capacidade de nos doarmos, nossa disposição em nos sacrificarmos pelos que amamos, a nossa serenidade, a alegria em viver nossa vocação, em enfrentar as dificuldades e sofrimentos. O contrário disso também é verdadeiro: quando nos anulamos, desenvolvemos problemas profundos com a perda de identidade, com o cansaço, com a vivência de uma vida menos humana. Não nascemos para não existirmos, para sermos sombras e escravos dos outros. Nascemos para viver, somos uma missão, nascemos para amar. E entre estas duas coisas há uma enorme diferença.

Além disso, em estados de tensão, muitas pessoas tendem a aumentar o ascetismo e a prescreverem ou angariarem mais esforços. Acabam então caindo inevitavelmente nas compensações, quebrando seu espírito e adoecendo seu corpo. É o caso de muitos que viveram uma fé tão rígida e rigorosa que não aguentaram e desistiram de tudo.

A nossa própria capacidade de suportar os sofrimentos cresce em intensidade conforme amadurecemos e nos dispomos. Portanto, não podemos pretender suportar toda a carga de uma só vez. É preciso aprender a beber gota por gota.

Espero que este artigo possa ajudar a vivermos de forma mais saudável, equilibrada e por isso, mais humana e santa.

Terapeuta e Escritora

4 Comentários

  • Amanda Maria Nogueira Terra

    Sensacional, esse texto veio no momento certo para mim que tenho passado por um cansaço extremo por conta do trabalho. As vezes nem tenho forças para cuidar da minha filha e esposo. Que Deus te abençoe, reze por mim.

  • Gabriela Miranda

    Muito obrigada por esse post! Graças à indicação que você fez no Instagram do livro “A formação da afetividade” eu decidi comprá-lo e ele foi um divisor de águas na minha vida. Percebo como muitas vezes tomamos como naturais certos comportamentos e nem paramos para nos questionar sobre o impacto deles em nossas vidas. E a questão do descanso sempre foi uma pedra no meu sapato.
    Minha ânsia por trabalhar muito e obter bons resultados já me levou a situações de uma exaustão profunda; eu acordava todos os dias me sentindo cansada e com os olhos pequenos de tanto sono. Mas, com o passar do tempo, comecei a repensar sobre isso e ver que, no final das contas, esse desejo de dar conta tudo estava fazendo com que eu não desse mais conta de nada.
    Lendo esse post consegui relembrar a importância de alguns pontos que já havia esquecido e me decidi novamente por buscar uma vida mais equilibrada.
    Agradeço profundamente pelo seu trabalho. Você é uma inspiração para mim.

    Que Deus te abençoe.

    Abraços,
    Gabriela.

    https://petalasdemaio.blogspot.com.br/

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