Tecnologia

A corda bamba entre conexão e desconexão

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O Brasil ficou em terceiro lugar no ranking de países que mais consumiram redes sociais em 2021. Os dados são de um levantamento divulgado pelas empresas WeAreSocial e Hootsuite e mostram que o brasileiro gastou, em média, cerca de 3 horas e 42 minutos por dia navegando pelas redes sociais. [1] No Brasil, são mais de 150 milhões de usuários de redes sociais. A taxa, pelo total de habitantes, é de 70,3%, um dos maiores dentre todos os países do mundo. [2]

A grande promessa das redes sociais é a possibilidade de conexão. Mas o que significa essa conexão? Ver o mundo através de uma tela nos torna mais conectados ou mais desconectados? Quando estamos nos celulares, estamos conectados ao quê? Se pararmos para analisar minuciosamente a qualidade dessa conexão, podemos nos surpreender com a quantidade de tempo que gastamos inutilmente e de como vivemos desconectados de nós mesmos, dos que estão próximos a nós, dos nossos deveres, sonhos e propósitos.

A palavra conexão foi reduzida a uma conotação relacionada à tecnologia. Assim como a palavra desconexão. Mas não deveria ser assim. Nós nos conectamos e desconectamos tanto no mundo virtual quanto no mundo concreto. Isso diz respeito a onde colocamos a nossa atenção. Por isso, no nosso dia a dia, vivemos naturalmente um baile entre estar conectado e desconectado de situações, atividades, pessoas em diferentes momentos. É a mudança de foco.

Ao contrário da vida ordinária, em que isso acontece de forma mais orgânica e lenta, nas redes sociais agimos assim várias vezes por minuto. É por isso que sofremos de um fenômeno chamado atenção fragmentada, que causa não apenas uma perda da capacidade de concentração mas também sentimentos de angústia e ansiedade. 

O excesso de conexão virtual é sustentado pelos estímulos constantes. A repetição da gratificação instantânea afeta negativamente nossa capacidade de manter o foco em tarefas importantes. A cada nova notificação, mensagem ou atualização de status, somos tentados a interromper nossas atividades e verificar. Além disso, a abundância praticamente infinita de opções, possibilidades, interesses e novidades nos incita a permanecer conectados àquilo que nos injeta mais dopamina.

Tudo isso é favorecido pelo sentimento de obrigação em estar conectado continuamente à tecnologia. Através da pressão social e da normalização deste mau hábito, parece uma revolução ou até mesmo que não temos o direito de estarmos desconectados. Somado a isso, o fenômeno do FOMO – fear of missing out – aumenta o sentimento de que desconectados do mundo virtual estaremos perdendo muitas coisas interessantes. 

Mas, por que não nos fazemos a mesma pergunta quando passamos tempo demais conectados ao virtual? A nossa vida do lado de cá das redes continua acontecendo, vamos perdendo tempo, momentos, memórias, mas parecemos não nos darmos conta de que quando nos conectamos ao virtual nos desconectamos da vida concreta.

Quando me conecto a algo, me desconecto de outro. Não há como ter dois focos de atenção. E nem por isso precisamos entrar em uma perspectiva dicotômica e superficial que considera que devemos escolher exclusivamente o mundo virtual ou o mundo concreto. O que precisamos de fato é aprender a andar na corda bamba entre a conexão e a desconexão.

Vivemos em um mundo onde quase todos estão conectados à tecnologia o tempo inteiro. Da forma como nos comportamos parece que tudo com o que nos importamos mudou para o mundo digital e que a vida fora dos dispositivos eletrônicos é agora apenas um apêndice. A área digital cada vez mais se torna o destino para tudo o que fazemos. Inconscientemente estamos nos deixando guiar por uma filosofia e um estilo de vida que acredita que estar conectado virtualmente só apresenta benefícios e que quanto mais conectado, melhor. 

Estamos todos mais ocupados, afinal dá um trabalho enorme administrar tanta conectividade virtual. A consequência é inevitável: estamos todos mais cansados e sobrecarregados. O excesso de informações nos satura e paralisa. Conectados a tantas telas, vivemos desconectados de nós mesmos. Vivemos acelerados, anestesiados, insatisfeitos, infelizes e com sensação de vazio interior.

O que perdemos enquanto nos conectamos virtualmente? Será que não estamos vivendo pelas telas e para as telas?  A conexão virtual será mais saudável se soubermos como sair dela de vez em quando. A verdadeira conexão é colocar a atenção no lugar certo. Precisamos reabilitar-nos em viver o momento em sua completude. Em estar presente de modo inteiro. 

As TIC`s (tecnologias da informação e comunicação) sem dúvidas nos trouxeram benefícios ímpares. Contudo, o seu uso imoderado e excessivo nos traz consequências maléficas inevitáveis. Talvez nos falte ter mais claro que a tecnologia veio para facilitar as nossas relações sociais e não para substituí-las. E quando nos damos conta disto, percebemos que precisamos voltar a trilhar um caminho mais artesanal.

Referências

1- Tempo excessivo nas redes virtuais pode afetar sociabilidade – Jornal da USP

2- Infográfico: Brasil é 3º em ranking mundial no uso de redes sociais – 24/09/2021 | Diário do Grande ABC (dgabc.com.br)

Terapeuta e Escritora

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